PROGRAMA DO CURSO DE ATENDIMENTO TÁTICO DE SAÚDE
As Forças Armadas e os Órgãos de Segurança Pública são instituições que realizam atividades de risco e que podem colocar seus respectivos integrantes em risco. Por esse motivo, os integrantes das citadas instituições, principalmente os de nível tático, estão em constante preparo para o sucesso das respectivas missões, para a própria segurança e, principalmente, para a preservação da integridade física individual e coletiva.
É sabido e constante no senso comum que os feridos em um ambiente hostil urbano, em primeira mão, são atendidos em via pública e posteriormente transferidos para uma unidade de saúde. Nos dias atuais, o ambiente urbano é instável por conta da violência e, nesse contexto, em comparação aos profissionais de Segurança Pública e das Forças Armadas, os integrantes do serviço de saúde não possuem um treinamento específico, com fomento institucional, para atuarem no contexto da violência urbana.
Em alguns fortuitos urbanos os integrantes de saúde chegam antes mesmo dos integrantes da segurança pública e, nesses casos, é importante que saibam como proceder e conduzir uma situação. Fato análogo a presente afirmativa ocorreu no Espírito Santo – ES, por ocasião de ataque de agressor ativo na escola de Aracruz, conforme retrata a imagem abaixo.
Mas não só em logradouro público que os profissionais de saúde sofrem risco da integridade pública. Algumas vezes o risco é inserido no ambiente hospitalar ou, até mesmo, ingressa em forma de agressor ativo para auferir protagonismo e causar terrorismo com ataques a pessoas indefesas, como ocorreu em na cidade de Américo Brasiliense em SP e retratado na fotografia abaixo.
A renomada, norte-americana, Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica (NAEMT) possui o programa do curso Tactical Emergency Casualty Care (TECC), que instrui os profissionais de saúde e outros provedores pré-hospitalares a responder e cuidar de pacientes em um ambiente tático civil.
O referido curso apresenta as três fases do cuidado tático, são eles: cuidado direto em zona quente, cuidado indireto em zona quente e cuidados de evacuação em zona fria. Nas respectivas fases são executados procedimentos de APH a feridos, obedecendo protocolos e técnicas específicas para segurança do cenário, autoproteção, até a evacuação dos acidentados, por meio de instruções teóricas e práticas controladas. É um programa pioneiro, muito bem elaborado e dentro das expectativas para os operadores de saúde.
No Brasil, a violência tem índices altos e medidos por meio das mortes violentas intencionais (MVI), as quais são medidas por meio do registro de vítimas de homicídio doloso, incluindo feminicídios e policiais assassinados, roubos seguidos de morte, lesão corporal seguida de morte e as mortes decorrentes de intervenções policiais. Nesse contexto, o anuário brasileiro de segurança pública (edição 2023) trás dados que no levam a refletir sobre a atuação e segurança de dois públicos distintos, os integrantes da segurança pública e integrantes do serviço de saúde.
A figura acima delineia os crimes que compõe os índices de mortes violentas intencionais e, nesse sentido, levando em consideração a faixa etária, percebe-se um aumento significativos no “age group” de 17 a 29 anos. Por outro lado, se analisarmos os locais em que as MVI ocorreram, os dados são robustos
em indicar as diferenças de padrão e características entre os diferentes tipos penais que
compõem essa categoria agregadora de registros.
Na média, 52,3% das MVI foram cometidas em vias públicas, seguidos das ocorrências cometidas nas residências das vítimas (22,6%). A ideia de que a casa é o reduto seguro das pessoas não pode, infelizmente, ser confirmada pelos dados de MVI no Brasil. A violência é uma experiência possível de ser
vivida em qualquer local e, nesse universo, soma-se a estatística os hospitais.
De todo conteúdo descrito e levando em consideração a estatística oficial da segurança pública brasileira, percebe-se que os integrantes do serviço de saúde correm um maior risco eminente de serem imersos nas tipologias penais que compõe as MVI, pois somando-se as estatísticas da via pública, da residência e da área hospitalar resulta em elevados 77,2% de possibilidade.
Levamos em consideração que os índices de MVI em ambiente hospitalar pode ser decorrente de ações e crimes externos que ingressam naquelas instalações de saúde, mas também não podemos deixar de descartar que o paciente acolhido em ambiente hospitalar foi uma vítima pontual e que os integrantes do serviço de saúde possam ser vítimas de oportunidade.
Atendendo as legislações brasileiras e com foco em estatísticas do cenário urbano no Brasil e levando em consideração falta de capacitação, institucional, do pessoal do serviço de saúde, para preservação de sua segurança em via pública e no interior de um estabelecimento de saúde, a National Association Tactical Instructors elaborou o Tactical Health Care Course Program (THC) – Atendimento Tático de Saúde, vocacionado para servidores da área de saúde, tais como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos, auxiliar de enfermagem, motoristas de serviço móvel, dentre outros profissionais afins.
O programa do THC é desenvolvido em cinco módulos distintos entre atividades teóricas e práticas, as quais são necessárias para massificação da cognição. Os referidos módulos são divididos da seguinte fórmula, conforme segue.
MÓDULO 1 – CONTEÚDO TEÓRICO / PRÁTICO – 4h
1. Estatísticas criminais que causam traumas urbanos
2. Traumas urbanos que afetam profissionais de segurança pública
3. Conduta no acompanhamento de integrantes das Forças de Segurança Pública e Forças Armadas
- Conceito sobre áreas verde, amarela e vermelha
- Conceito sobre cobertas e abrigos
- Técnicas de progressão em acompanhamento a Força de Segurança em área urbana
4. Técnica de abordagem a ferido em área hostil (AVDI)
5. Primeiros procedimentos de atendimento é área hostil
6. Técnica de remoção para área segura
- Transporte de feridos
7. Procedimentos em área segura
MÓDULO 2 – CONTEÚDO TEÓRICO / PRÁTICO – 1h
1. Montagem do Individual First Aid kit (IFAK)
2. Montagem do Buddy First Aid Kit (BFAK)
MÓDULO 3 – CONTEÚDO PRÁTICO – 4h
1. Realizar a simulação de deslocamento com tropa constituída e integrante de serviço de saúde
2. Simular disparos de arma de fogo para integrantes da área de saúde procurarem abrigo ou coberturas
3. Simular chegada ao ferido da equipe da área da saúde, coberta pela equipe de segurança pública e realizar primeiros atendimentos.
4. Simular evacuação do ferido para área segura.
MÓDULO 4 – CONTEÚDO TEÓRICO – 1h
1. Abordar assuntos da defesa de instituição de saúde
2. Abordar protocolo de defesa hospitalar
- Defesa orgânica defesa pessoal
MÓDULO 5 – CONTEÚDO PRÁTICO – 2h
1. Exercício simulado de defesa hospitalar
2. Protocolo de restabelecimento pós crise
O preparo do referido programa foi elencado para que o pessoal do serviço de saúde possa ter segurança durante exercício de suas funções em via pública, particularmente para o pessoal do serviço móvel de urgência, bem como na instalação hospitalar, quando a ameaça ingressa nas instalações de saúde.