LUTAS E ARTES MARCIAIS, REPENSANDO A QUESTÃO DA INSTRUÇÃO, DOCÊNCIA E MAESTRIA

Leo Imamura – é orientador estratégico de pessoas. Sua atuação é fundamentada no Sistema Ving Tsun, sistema de inteligência estratégica com base no desenvolvimento humano, reconhecido como patrimônio cultural intangível chinês. Discípulo do Patriarca Moy Yat, um dos maiores mestres da área do Século XX, Imamura honra seu legado ao contribuir com seu expertise em diversos segmentos da sociedade.

Introdução

Antes de repensarmos a questão da instrução, docência e maestria no contexto das lutas e das artes marciais, é fundamental expressarmos o nosso entendimento sobre estas práticas e suas consequentes distinções.

De início, buscaremos um entendimento sobre a instrução, a docência e a maestria, suas relações e seus desdobramentos enquanto transmissão de uma atividade para a busca daquilo que podemos chamar de “fazer com excelência”.

Em paralelo, proponho uma reflexão sobre a ideia de luta e sua importância no âmbito antropológico, enquanto manifestação do eu contra o mundo até o entendimento desse mesmo eu com esse mesmo mundo. Já as artes marciais tem um papel cultural mais definido, visto que que ela expressa a luta dentro de aspectos estéticos que se baseiam nos valores expressados em cada civilização.

Por fim, conforme o tema proposto por este forum, faremos uso do processo transformativo das lutas em artes marciais como pano de fundo para uma ressignificação da instrução, docência e maestria dentro dos mais diversos cenários da necessidade humana, onde propostas distintas em diferentes momentos históricos podem justificar suas respectivas importâncias.

Instrução, Docência e Maestria

A instrução é o que exerce o instrutor, ou seja, aquele que exerce o ato de instruir, cuja origem latina pode significar “prover de informação”. Parece que o cerne da instrução está na transferência de conhecimento. O que a torna extremamente válida numa realidade imediatista, onde o fluxo de informação é alucinante.

Já a docência está relacionada com a ação de ensinar. Embora não explicitada, o vínculo da docência com a educação parece mais sólido do que esta com a instrução. Ainda que ambas, docência e instrução, possam servir aquela.

Por fim a maestria, enquanto conhecimento profundo a respeito de algo, parece estar relacionada à ação de aprender. Um aprender a partir do outro para si mesmo. Muitas civilizações associam a maestria à sabedoria, já que a primeira promove a importância de se estender o domínio específico de uma determinada área e expandi-la para o cotidiano.

Lutas e Artes Marciais

A luta é o ato de lutar. É um termo genérico de enfrentamento, particularmente na condição de corpo-a corpo. O vernáculo nos oferece algumas acepções:
1. enfrentar em corpo a corpo (um adversário) visando obter vitória. “lutou com um adversário mais forte’ ou “os dois lutaram até cair”
2. bater-se (com ou sem armas); brigar, combater, pelejar, pujar. “ lutou contra o próprio irmão” ou “os dois exércitos lutaram ferreamente”
3. opor-se a (alguém, um grupo) com determinação para impor sua supremacia, fazer prevalecer seus interesses, vontades, idéias etc. “ lutou sozinho contra a diretoria”

A essência da luta parece concentrar-se no embate, no confronto, no enfrentamento, na
oposição, na imposição, no esforço.

Sua riqueza está no desprendimento da energia e sua consequente geração. Seu valor está na tomada de posição e sua subsequente defesa. Se o prevalecimento está no âmago da luta, então vencerá o mais forte. Para ser vitorioso, devo me esforçar para ser mais forte do que o outro, ou seja, ser superior nos valores que a luta será parametrizada.

Mas e o considerado fraco? Ele também não quer ter sua vitória? Como ele poderá tomar a posição daquele considerado o mais forte. Como analisar os aspectos que vão determinar a vitória nos seus mais amplos parâmetros. Quais seriam os níveis de prevalecimento?

Surge então a necessidade de estudar a luta, pois talvez os opositores não estejam
lutando pelos mesmos objetivos.

Essa necessidade de avaliar ou de parametrizar permitiu que o mais fraco fisicamente saísse das amarras da supremacia física. A técnica surge para virtualizar o movimento e tornar-se muito mais que um procedimento operativo desse mesmo movimento.

Nesse momento, começa a brotar a semente das artes marciais. Percebe-se que a luta nem sempre leva à vitória. Em outras palavras, nem sempre o que lutou mais ou melhor sai vitorioso. Nota-se também que fatores externos aos contendores participam ativamente do resultado final do combate. Assim como as condições meteorológicas ou geográficas tem seu papel significado no palco da guerra.

Foi na China que esta tendência atingiu seu extremo. Os vestígios desse conhecimento popularizou-se através da obra de Sun Tzu, o legendário estrategista chinês que viveu no período dos Estados Combatentes.

Falo de vestígios pelo fato que a popularização da obra não permitiu necessariamente seu entendimento. Sua contribuição está muito além do que a citação de aforismos de efeito tipo “conhecendo a si e a seu inimigo, terá cem vitórias em cem batalhas”.

Sun Tzu propôs o que Albert Galvany chamou de femilização da guerra (conduta suave). Mais importante que impor, é perceber o outro. Mais imperativo que lutar, é identificar o potencial de situação que permitirá a vitória antes de lutar.

Como nos brinda François Jullien, Sun Tzu representa o pensamento onde não se luta para vencer, mas sim só se luta quando a vitória está assegurada.

Não obstante, como é possível identificar de antemão a vitória? Jean Levy oferece-nos um conceito que permitirá entender Sun Tzu: a ideia de “indício significante”. São os sinais mínimos normalmente não percebidos, mas que são fundamentais para a configuração de um futuro.

Voltando para a luta. Como desferir um golpe e saber que iremos acertar antes de desferi-lo?

Contudo, quem seria o portador dessas valiosas informações que permitiria a minha vitória? Mêncio, um famoso sábio chinês, propagava a importância do desenvolvimento humano, pois o adversário não é seu inimigo, é apenas alguém que está do outro lado e será exatamente ele que me informará sobre sua própria vulnerabilidade. Obviamente, que isso não será intencional, por isso que um outro nível de relação deverá se constituída entre ambos os lados.

Assim, a arte marcial, em seu patamar mais elevado, é expressada antes que o combate se trave e será o desenvolvimento humano o fator preponderante no exercício da inteligência estratégica. Se na luta, o confronto parece ser sua essência, na arte marcial encontra seu equivalente no encontro. Ambos os vocábulos, “confronto” e “encontro”, podem ter suas semelhanças etimológicas, mas com grande discrepância no entendimento vernacular. Encontros não resultam em confronto quando há um respeito pela ação do outro.

A Palestra

Minha palestra (1, 2, 3 e 4) exporá uma reflexão sobre como o contexto da Luta e Arte Marcial poderia suscitar uma ressignificação da instrução, docência e maestria, a ponto de, particularmente o último, ter uma representação quase que exclusiva em seu contexto. Essa característica faz com que muitas dúvidas surjam com relação ao significado da maestria na arte marcial e o seu personificador: o Mestre de Artes Marciais.

Questões como o processo da maestria no campo das artes marciais, bem como a qualificação do chamado mestre de artes marciais comporão uma importante parte da minha exposição.

Leo Imamura é orientador estratégico de pessoas. Sua atuação é fundamentada no Sistema Ving Tsun, sistema de inteligência estratégica com base no desenvolvimento humano, reconhecido como patrimônio cultural intangível chinês. Discípulo do Patriarca Moy Yat, um dos maiores mestres da área do Século XX, Imamura honra seu legado ao contribuir com seu expertise em diversos segmentos da sociedade.

1 https://www.youtube.com/watch?v=4AaNI08ENC4

2 https://www.youtube.com/watch?v=GSDlaIZLT2E

3 https://www.youtube.com/watch?v=ReTM-W5lcf8

4 https://www.youtube.com/watch?v=_BxmexXKnYc

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