O SISTEMA VING TSUN PARA FORÇAS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS

Fábio Gomes – Mestre Ving Tsun

Desde a antiguidade, certamente em todo o mundo, seja frente a uma ameaça ou durante um conflito, Homens com habilidades especiais eram selecionados para executar tarefas consideradas por muitos como impossíveis. A intenção era obter vantagem estratégica sobre o inimigo, aumentando consideravelmente as chances de vitória.

Nos dias de hoje não é diferente, sabemos que operadores de unidades especiais, policiais ou militares, continuam sendo extremamente úteis, seja na orientação de líderes, treinando equipes de outras unidades, resgatando reféns, sendo “ponta de lança” em uma operação de alto risco ou outras atividades de igual relevância.

Um ponto em comum entre esses combatentes de elite, do passado e presente, é a condição indispensável de estarem sempre prontos a cumprir qualquer missão, a qualquer hora. Sendo assim, salvo melhor juízo, os conhecimentos a serem transmitidos a esses profissionais devem ter característica interdisciplinar, ou seja, além de precisarem de uma quantidade ampla de aprendizado, estas disciplinas precisam se relacionar, ter pontos de conexão.

O SISTEMA VING TSUN

O Ving Tsun, é um tradicional sistema marcial chinês de inteligência estratégica, com base no desenvolvimento humano. Teve origem no século XVIII, sendo fundado por uma mulher, a mestra Yim Ving Tsun, a partir da herança do renomado Monastério Shaolin e influenciado pela estratégia clássica chinesa, muito propagada por sábios e estrategistas da antiguidade, como Sun Tzu em seu livro A Arte da Guerra.

Em 2007, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) – acrônimo de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, o Ving Tsun foi declarado patrimônio cultural intangível pelo governo chinês.

Como em outros sistemas de artes marciais, o Ving Tsun, tem como uma de suas qualidades o potencial para que o praticante possa utilizar o próprio corpo como mídia, a fim de desenvolver sua inteligência estratégica, através da experiência marcial, respeitando suas particularidades (limitações e possibilidades).

A inteligência estratégica aqui mencionada, se caracteriza pela capacidade de antecipar e explorar com sabedoria o potencial existente em uma determinada situação, a partir da interação com o adversário.

A partir do estudo do Ving Tsun, estruturado por uma lógica de desenvolvimento, percebe-se que o estrategista é aquele que se apoia no potencial existente em cada mudança. A mudança para ele é uma forma de se adaptar, para que possa alcançar o efeito desejado.

Portanto, este conhecimento pode ser explorado, sob medida, em diferentes áreas, incluindo o preparo de operadores especiais policiais e militares.

O SISTEMA VING TSUN PARA FORÇAS DE OPERAÇÕES ESPECIAIS

Como pudemos perceber, a finalidade da prática do Ving Tsun não precisa se restringir ao combate corpo-a-corpo, ao fazer isso, seria como comprar um Rolex, por exemplo, e utilizá-lo apenas para ver as horas. Existem outros valores, tão importantes quanto ou até mais, que o compõe.

É importante que o estudo do Ving Tsun para Forças de Operações Especiais, seja feito sob medida, buscando equilibrar a necessidade dos operadores, com a disponibilidade dos mesmos.

Existem várias formas de explorar este sistema marcial, ele é flexível e tem o potencial para adequar-se conforme a especificidade do que se pretende. Entretanto, é fundamental ter em mente que o Ving Tsun não é a resposta para todos os problemas da sociedade, mas pode ser, assim como outras práticas, uma ferramenta a mais a favor dos operadores, para que tenham mais opções de resposta aos desafios que podem enfrentar.

Normalmente o aprendizado é elaborado em três fases: estruturada, semiestruturada e não estruturada. Na fase estruturada, o policial ou militar será estimulado a identificar, verificar, atentar e especificar uma ação, a partir de uma mobilização, para que possa vivenciar um processo dinâmico e sem artificialidade, mas focado no tema em questão. Na fase semiestruturada, o policial ou militar será levado a avaliar, investigar e analisar uma ação, a partir de uma mobilização, que o permita perceber o potencial contido em diferentes situações, que estimulem a adequação às condições ou características normais de operação, com índice de previsibilidade variando de baixo a alto (nesta etapa o operador pode estar armado e equipado, para que possíveis ajustes possam ser feitos durante a prática). Na fase não estruturada, o policial ou militar será estimulado a desenvolver, explorar e ajustar cada ação, a partir de uma mobilização, para que o operador possa fazer uso das oportunidades oferecidas pelo outro (o oponente).

Quando o trabalho é focado em lideranças, ele pode envolver três mobilizações: intrapessoal, interpessoal direta e interpessoal indireta. A primeira mobilização, refere-se a relação de liderança do policial ou militar com ele mesmo. A segunda mobilização, corresponde a relação de liderança do policial ou militar diretamente com o liderado. Já a terceira mobilização, diz respeito a relação de liderança do policial ou militar com o liderado, mobilizando o mesmo a interagir com uma terceira pessoa.

 

A ideia é que os participantes sejam estimulados a desenvolver o conteúdo proposto de maneira gradativa e condizente com sua capacidade de resposta. Objetivando prover experiências mobilizadoras, convidando a análise e reflexão, para que tenham condições favoráveis de estender naturalmente para a conduta o que está sendo transmitido, sem artificialidade. Saber se adaptar e tomar decisões assertivas em favor do êxito na missão, seja em tempos de paz ou de guerra, é um exemplo do que pode ser estudado através do Ving Tsun.

CONCLUSÃO

Há um enorme potencial de transformação e desenvolvimento através das artes marciais. Infelizmente muitas pessoas ainda têm uma visão estereotipada sobre elas, e não compreendem a amplitude de seu papel na sociedade contemporânea.

Um grande exemplo, é confundir luta com artes marciais. Luta está diretamente ligada ao atrito, onde a tendência é a de que o mais forte prevaleça. As artes marciais, por outro lado, aprofundam o estudo da luta, visando a, dentre outras coisas, dar condições estratégicas de vitória mesmo àquele contendor considerado mais fraco fisicamente, inclusive sem que haja a necessidade de um confronto corporal com o adversário.

Considerado um legado de sabedoria em movimento, o aprendizado do Ving Tsun estimula a repensar como percebemos e interpretamos a realidade, utilizando a capacidade de mobilidade do corpo humano para frustrar a atividade dicotômica do pensamento, que petrifica a fluidez de uma tendência e impede a identificação dos sinais ínfimos da transformação que está por vir.

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